Direcção e concepção Sandra Faleiro e Paula Castro
Textos José Luís Peixoto
Interpretação e co-autoria Francisco Campos, Paula Castro e Sandra Faleiro
Desenho de luz Carlos Gonçalves
Música Sérgio Delgado
Cenografia Eric Gerdau
Figurinos Carlota Lagido
Fotografia e Design Gráfico Eric Gerdau
Direcção de produção Alejandra Alem
Assistência de produção Pietro Romani
Co-produção Primeiros Sintomas / Casa d’Os Dias da Água


Apontamentos ou uma pequena viagem sobre os nossos universos
O tempo torna as memórias baças como uma madrugada de nevoeiro temporal, que dilui e desfoca os materiais que pesquisamos criando sombras e miragens a partir de situações comuns da vida.
Esse nevoeiro instala-se, expande-se. A desconstrução de situações, sentimentos, sensações, produzem imagens que vão para além das palavras e que sequenciadas ou apenas sobrepostas dão origem a um todo, um pequeno universo de memórias, de vivências, devaneios.
A incomunicabilidade, o querer estar mas não conseguir, o amor, o sufoco, e a procura de um apaziguamento de fantasmas que nos perseguem são o tónico para um discurso comum, mas dialéctico, obrigando-nos a questionar e a adaptar os nossos processos criativos em prol de um todo.
Paula Castro e Sandra Faleiro

Estou parado. Estendo as mãos para dentro do nevoeiro e, no fundo dos braços, deixo de ver as mãos. Estou parado e estou sentado. Encosto-me. O meu corpo não tem posição. Entro todo dentro do nevoeiro. Os meus olhos parados na sombra opaca do nevoeiro. Entro todo dentro do nevoeiro e deixo de ver o meu corpo. Movimento-me dentro do meu corpo parado. As minhas pernas caminham dentro do meu corpo sentado e encostado a esta superfície fria e invisível. O meu corpo não tem posição. Não me encontro. Procuro-te, superfície fria e invisível, sombra opaca. Procuro-te. Estou parado.

José Luis Peixoto